quarta-feira, 22 de maio de 2013

ARGUMENTO COSMOLÓGICO KALAM


Tudo sobre o Argumento cosmológico Kalam.

O argumento cosmológico é o argumento a partir da criação ao Criador, a posteriori, do efeito à causa, e é baseado no princípio da causalidade. Afirma que todo evento tem uma causa, ou que tudo que começa tem uma causa.

O argumento Kalam (do árabe, “eterno”) é uma forma horizontal (linear) de argumento cosmológico.

O universo não é eterno, então deve ter tido uma Causa. Essa causa deve ser considerada Deus. Esse argumento tem uma historia longa e venerável entre filósofos islâmicos como Alfarabi, Al Ghazali e Avicena. Alguns filósofos acadêmicos também o usaram, especialmente Boaventure. Mas ele não foi aceito por Tomás de Aquino, que acreditava ser filosoficamente possível (apesar de biblicamente falso) que Deus pudesse ter causado o universo desde a eternidade.
A essência do argumento.

O esquema do argumento Kalam é:

1- Tudo que teve princípio teve uma causa.
2- O universo teve principio.
3- Logo, o universo teve causa.

Linhas de evidencias cientificas e filosóficas geralmente são fornecidas para apoiar a segunda premissa crucial. A evidência cientifica é baseada em grande parte na segunda lei da termodinâmica, que afirma que a energia útil do universo está se esgotando e, portanto, não pode ser eterna. Outra evidência de apoio é tirada da cosmologia do big-bang, inclusive o universo em expansão e o eco expresso de radiação da explosão original – tudo isso usado para apoiar a idéia de um principio do universo.
O argumento filosófico favorável ao principio pode ser resumido assim:

1- Se um número infinito de momentos tivesse ocorrido antes de hoje (tempo/estado atual), então hoje jamais teria chegado, já que é impossível atravessar um numero infinito de momentos.
2- Mas o hoje chegou.
3- Logo, houve um numero finito de momentos antes de hoje; o universo teve um principio.

- Criticas ao argumento.

Criticas foram feitas contra o argumento Kalam.

Listaremos as mais importantes.

Universo eterno imemorável.

Alguns sugerem que o big-bang apenas indica a primeira erupção do universo previamente eterno. Isto é, o universo era eternamente inativo antes desse primeiro evento. A singularidade do big-bang apenas indica a transição da matéria física primitiva. Logo, não há necessidade de um Criador para fazer algo do nada.

Resposta ao argumento Universo eterno imemorável: Nenhuma das leis naturais conhecidas pode explicar essa erupção violenta a partir de inatividade eterna. Alguns teístas afirmam que o universo eternamente inativo é fisicamente impossível, já que teria de existir a zero grau, o que é impossível. A matéria no principio era tudo, menos fria, sendo amalgamada numa bola de fogo com temperaturas acima de bilhões de graus Kelvin. Na porção de matéria congelada a zero grau, nenhum evento poderia ocorrer. Finalmente supor matéria primitiva eterna não explica a incrível ordem que se segue ao momento do big-bang (princípio antrópico). Apenas um Criador inteligente pode ser responsável por isso.

Universo em repercussão.

Alguns cientistas sugeriram que o big-bang pode ser apenas o evento mais recente no processo eterno de expansão e contratação.

Resposta á teoria do Universo em repercussão: Há vários problemas com essa hipótese. Não há evidencia cientifica real para essa especulação. Isso contradiz a Segunda Lei, que exige que, mesmo que o universo estivesse se expandindo e se contraindo, ainda estaria se desgastando, então acabaria em colapso de qualquer forma. Lógica e matematicamente, a evidencia do big-bang sugere que originalmente não havia espaço, nem tempo, nem matéria. Logo, ainda que o universo estivesse de alguma forma passando por expansão e contração a partir desse momento, no principio ele surgiu do nada. Isso ainda exigiria um Criador inicial.

Teoria do estado estável.

Fred Hoyle elaborou a teoria do estado estável para evitar a necessidade de supor uma primeira causa. De acordo com essa hipótese, átomos de hidrogênio surgem espontaneamente para impedir o desgaste do universo. Nesse caso, não seria necessário um principio, já que sua energia útil não está se desgastando.

Resposta á Teoria do estado estável: Há dois problemas sérios com essa especulação. Primeiro, não há evidencia cientifica de que átomos de hidrogênio surjam espontaneamente. Isso nunca foi observado em lugar algum. Segundo, a crença em átomos de hidrogênio surgindo do nada é criação ex nihilo. Isso não explica o que (ou quem) as cria. Na verdade, tal crença é contrária ao principio fundamental da ciência (e do pensamento racional) que diz que tudo que surge tem uma causa.

Não há necessidade de uma causa.

Alguns ateus argumentam que não há nada incoerente em algo que surge do nada. Eles insistem que o universo poderia surgir “pelo nada e do nada” (Kenny, 66).

Resposta ao argumento que Não há necessidade de uma causa: Os proponentes do argumento Kalam oferecem várias explicações em resposta. Primeiro, isso é contrário ao principio estabelecido da causalidade. É contrario à iniciativa cientifica, que busca uma explicação causal. É contra-intuitivo acreditar que as coisas simplesmente surgem do nada. Muitos argumentam que a idéia de que o nada pode causar algo é logicamente incoerente, já que o “nada” não tem poder para fazer nada – ele nem mesmo existe.

Série infinita.

Alguns pensadores acreditam que um numero infinito de momentos é possível, já que na matemática séries infinitas são possíveis. Por exemplo, um numero infinito de pontos existe entre os extremos de uma régua.

Resposta ao argumento da Série infinita: Os proponentes do argumento Kalam insistem em que há uma diferença entre uma série infinita matemática e uma série infinita real. Séries matemáticas são abstratas, mas séries reais são concretas. Numa série concreta é impossível ter um numero infinito, pois não importa qual longa ela seja sempre é possível acrescentar mais um. Mas assim ela seria mais que infinitamente longa, seria impossível. Além disso, o fato de se ter um numero infinito de pontos abstratos (sem dimensão) entre os extremos de um livro na minha mesa não significa que se possa colocar um numero infinito de livros (nem mesmo folhas de papel) entre eles, não importa quão finos sejam.
Outros se opõe dizendo que, se Deus conhece o futuro, que é infinito, então ele conhece uma série infinita de eventos. E, se ele a conhece, então ela deve ser possível, não importa quão contrária seja às nossas intuições. Mas os defensores demonstram que o futuro não é uma série infinita real, mas apenas potencial, sempre havendo a possibilidade de mais um evento. Além disso, se a série infinita real é impossível, Deus não pode conhecê-la já que Deus não pode conhecer o impossível, apenas o real e o possível.

Não há Deus pessoal.

Alguns se opõem ao argumento Kalam porque ele não prova que Deus é pessoal ou inteligente. Logo, não é útil para o teísmo cristão que acredita num Criador inteligente.

Resposta ao argumento que Não há Deus pessoal: Alguns teístas argumentam que apenas um ser com livre-arbítrio poderia criar algo do nada. E alguns teístas acreditam que o argumento sozinho prova um Deus teísta. Ele deve ser unido ao argumento teleológico e/ ou ao argumento moral para demonstrar que Deus também é inteligente e moral. Em segundo lugar, alguns proponentes do argumento Kalam oferecem argumentos para a personalidade da Primeira Causa, independentemente dos argumentos teleológico ou moral. Três foram sugeridos.

O argumento para a Primeira Causa pode ser afirmado desta forma:

1- O universo teve uma Primeira Causa.
2- O ato da Primeira Causa de criar foi determinado, ou indeterminado, ou auto-determinado.
3- Mas não pode ser determinado, já que não havia nada antes da Primeira Causa.
4- E não pode ser indeterminado, já que isso é contrário ao principio da causalidade.
5- Logo, o ato de criar deve ter sido auto-determinado.
6- Mas atos auto-determinados são atos livres, pois é isso que se entende por ato livre.
7- Logo, o ato pelo qual a Primeira causa criou o mundo deve ser um ato livre de um ser inteligente e pessoal.

O argumento da natureza das causas pode ser afirmado desta maneira:

1- Uma causa inteligente é caracterizada por efeitos que têm efeitos ordenados e regulares.
2- Segundo o principio antrópico, o universo foi “adaptado” ou “pré-moldado” desde o momento de sua origem no big-bang para o eventual surgimento da vida humana. Qualquer mudança das condições, por menor que fosse, tornaria a vida como a conhecemos impossível.
3- Logo, a Primeira Causa deve ter sido uma causa inteligente.

O argumento da natureza das causas naturais afirma que causas naturais têm certas características que não estavam presentes antes do momento da criação do universo. O argumento pode ser afirmado desta maneira:

1- Causas naturais têm condições predeterminadas.
2- Mas não havia condições predeterminadas antes do momento da origem big-bang do universo de tempo e espaço.
3- Logo, a Causa não foi uma causa natural; ela deve ter sido uma causa não-natural sem condições predeterminadas.
4- A única causa conhecida que tem essas características é uma causa livre.
5- Logo, a Primeira Causa foi uma causa livre.

Limites do argumento.

O argumento Kalam e a existência contínua de Deus.

Três objeções têm mais valor que outras. Elas não invalidam o que o argumento Kalam demonstra, mas mostram suas severas limitações. Esse argumento não pode provar que algum Deus existe agora. Logo, não pode refutar o Deísmo. Além disso, suas suposições não são aceitáveis para o Panteísta, então é inútil contra o Panteísmo.

O argumento Kalam como tal não prova que algum Deus existe agora ou existe necessariamente. É um argumento sobre como o universo se originou, não como é sustentado. Demonstra que uma Primeira Causa era necessária para explicar como o universo surgiu. Isso não significa que não haja uma maneira de retificar esse inconveniente. Pode-se argumentar que essa Primeira Causa deve existir agora, já que o único tipo de ser que pode causar um ser contingente (isto é, que pode surgir) é um Ser Necessário. Um Ser Necessário não pode surgir nem deixar de existir. No entanto, isso toma emprestado o raciocínio do argumento cosmológico vertical para compensar a falta no argumento cosmológico horizontal. Pode ser mais fácil começar com a forma vertical.

Kalam e o Deísmo.

Já que o argumento Kalam como tal não prova que Deus é necessário para sustentar a existência atual do universo, ele tem tons deístas. Isso não significa que esse argumento negue a possibilidade de milagres, mas nega a base ontológica para a imanência de Deus.

Um Deus que não é, como o argumento cosmológico horizontal demonstra ser a causa da própria existência do universo, deísticamente remoto. O argumento mostra que Deus era necessário para dar inicio ao universo, que é exatamente o que os deístas acreditam que aconteceu. Novamente, o problema não é retificável, a não ser que se busque ajuda na forma vertical do argumento cosmológico, mostrando como um Ser Necessário é necessário o tempo todo para sustentar todos os seres contingentes a todos os momentos da sua existência.

O argumento Kalam e o Panteísmo.

O Kalam não refuta o panteísmo. Na verdade, comete uma petição de princípio ao assumir a realidade do mundo finito. Nenhum panteísta admitiria as premissas de que um mundo finito de espaço e tempo realmente existe e está realmente se desgastando, ou que o tempo é real, envolvendo unidades reais discretas que passam sucessivamente. Logo, o Kalam não é eficaz no combate ao panteísmo. Que valor tem para o teísmo esse argumento, que não elimina nem o deísmo nem o panteísmo? Parece não haver solução que não envolva um apelo para a forma vertical do argumento cosmológico. A forma vertical do argumento cosmológico parece necessária para sustentar o argumento Kalam.

(Enciclopédia de Apologética, Norman Geisler)

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